terça-feira, 4 de maio de 2010

A porta, entreaberta.


A tristeza bate na porta.
A maldita tristeza vem bater a porta.
Você aumenta o volume.
Ela continua batendo à porta, mais alto.
Você tenta ler alguma coisa, mas o som ligado não deixa.
A tristeza aumenta a força, só pra te irritar.
Você, iludido, acha que ela vai embora, então pra não incomodar, aumenta o volume do som e vai fazer sua janta.

A tristeza se irrita, e bota a porta no chão, furiosa, e destroi sua casa.
Vai dar trabalho, uma mudança as vezes é necessária, você podia estar enjoado da rotina e dos mesmos objetos sempre, só que a tristeza não para até quebrar tudo, e você vai sentir falta de algumas coisas, e vai chorar e ficar impotente, agachado no meio dos destroços.
Pela porta arrombada, vão entrar muitas outras coisas que em vez de agredir só sua casa, irão te agredir também, ou te fazer agredir outras pessoas.
Isso terá consequências, você é inimigo da tristeza, ela vai jogar tudo que ela tem contra você, e você, sem lar, sem apoio, ou vai apanhar até ela cansar de te bater, e vai entrar em um ciclo vicioso que não te levará a lugar nenhum.
A tristeza é uma visita social. Se ela vier a primeira vez, atender a porta é a melhor opção.
Pergunte como ela anda, pergunte de sua rotina, lhe sirva um drinque, um café. E quando tiver saturado dela, peça educadamente para ela ir embora. Quem sabe um dia, ela possa até te ligar antes de vir te ver, se brincar ela roubará algumas coisas da sua casa, dará seu endereço pras outras desgraças da vida humana, tudo pode acontecer. Mas com sua casa inteira, com você escolhendo o que fica a mostra pra ser roubado, escolhendo se vai deixá-la segura, ou se vai vender tudo e viajar, as coisas serão mais tranquilas e mais saudáveis.
O poder de escolha é inebriante, e o poder de enxergar através da mesma é a capacidade mais dificil de ser lidada.
Mas, ao fazê-lo, você terá motivos e razão para, inclusive, se achar que é necessário, agredir quem ama, com base para tanto.
Mas do contrário, será alguém com a marca da hipocrisia, que fala alto só porque tem alguém falando alto, que reclama, só porque dá razões pessoais para abordar alguém e apontar o dedo na cara. Será uma pedra que só é jogada pra todo lado, se esfacelando sem nem perceber.
A agressão também é uma face do amor, mas é a face do amor desfigurado, do amor mimado, que se consome na raiva e na culpa. Um dedo apontado levanta muita sujeira, causa asco, nojo, rejeição, e só é apontado pros outros pra distrair as atenções de si mesmo.
Um dedo em riste é a virtude dos hipócritas.

Ninguém é culpado pelo que você faz, a culpa é sua, e só sua, engula ela como quem toma remédio, como quem toma veneno pra se tornar imune. Se for bater, lembre-se de que está se expondo a apanhar também, se for bater, não assopre depois. Se for bater, esteja preparado pra apanhar de volta, quem bate se torna dependente da capacidade do outro revidar, quem bate depende.
Perdoar é lindo, e não adianta falar que não importa com beleza, se você se maquia pra esconder quem realmente é. O mundo não é um playground, e grande parte das pessoas não deveria mais ser criança.
Tem dias que o som nunca está alto o suficiente, e noites em que o susurro, intencionalmente, nunca é baixo demais, ou não era pra ser.
Acorde, ou morra tentando.

- Cut ∆way.

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