quinta-feira, 24 de maio de 2012

Em negro vermelho.


Abriu os olhos como se pudesse enxergar.
Moveu as mãos uma sobre a outra, passando os dedos por entre os mesmos.
Nas rugas de seus olhos se espremeu uma lágrima.
Salgada.
Nas valas de sua pele o sal passou e reescreveu arduamente sua história.
Disseram a ele que sua vida passaria no fundo de sua retina, mas não passou.
Tudo o que passou pela sua retina foi metal enferrujado.
Haviam pregos nos seus olhos, e na mão do torturador, um martelo.
Júri, juiz e executor, e ele, entre tantos outros réus.
A lágrima desceu e ardeu até o momento que se espalhou no fio de uma lâmina.
Haviam pontos finais de sal na sua garganta.
Réu.
Júri.
Juiz.



Executor.

- Cut ∆way. 

terça-feira, 8 de maio de 2012

Atoa.


Não me deram um deus, logo não tenho um, é matemática básica.
Até tentaram me dar seres parecidos com um, mas eu não tinha mãos para segurá-los, eu era tão pequeno e todos me pareciam tão pesados.
Eu dormia na igreja, e ria, mas não ria porque achava engraçado, eu ria como se ri em um elevador.
E até acredito que o tal prédio pontudo fosse pra funcionar como um.
Mas não dá muito certo, dá?
Por muito tempo as coisas não foram tão claras assim.
Eu me lembro de dizer que não acreditava no padre aos seis, mas nem se algum dia disse algo do gênero de fato.
Aos onze a imagem do ser barbudo sumiu, e só sobrou fumaça.
Aos dezessete eu parei de rezar sozinho no escuro.
Ou talvez, quem saiba, tenha sido mais tarde.
Talvez pouca gente amada tenha morrido, talvez meu videogame e meus desenhos tenham sido minhas muletas.
Quem sabe eu não tenha sofrido o suficiente.


Quem sabe, no fim, eu tenha que morrer.
Morrer para crer.


- Cut ∆way.