terça-feira, 11 de maio de 2010

O corte, a cura.


Certa vez, um texto foi escrito. E esse texto, por sua vez, acabou por ser apagado. O motivo, hoje desconheço. A palavra lançada é uma faca de dois gumes, e o escritor deveria ter sido rasgado também. Espero que tais linhas não se percam na memória. A raiva, ou grande parte dela, contida naquele texto concluirá sua função, e se tornará mais indiferença, desapego. O primeiro amor veio, o segundo também. O coração rasgou, cicatrizou, calejou. Mudou de forma, de velocidade, de funcionamento. Mas ainda não parou de funcionar. Os erros se mostram, as miragens são queimadas pouco a pouco enquanto outras apontam no horizonte, é natural.
E o tempo a se esperar se torna essencial.
Só recue o suficiente, e nada além disso.
Além disso, é só arrependimento e mais sofrimento, mais energia gasta, e mais uma memória a ser recalcada.
O solo cáustico continua sendo a melhor maneira de infertilidade, mas até o mais infértil dos solos parece ter valor.

- Cut ∆way.

Vanguart - Para abrir os olhos


Eu devo ir
Não há mais sentido
Nos resta se juntar

Quem sou eu
Já não importa
Nem nunca importou

Que importa é o que te quebra em duas cidades
Que importa é o que te deixa tão transfuso

O que é a dor eu não entendo
Mas sinto apertar de leve o meu peito
Nas madrugadas quando estou a navegar

Faz quarenta dias que eu estou no meu barco a vela
Não me sinto tão sozinho, eu tenho meus amigos
Só aparecem quando eu bebo
Só aparecem quando eu bebo

Só aparecem quando eu bebo
Só aparecem quando eu bebo
Só aparecem quando eu não sou eu
E hoje eu não...

Que importa é o que te faz rachar as velas
Que importa é o que te faz abrir os olhos de manhã

Já é de manhã
Já é de manhã
Já é de manhã
Adeus, já é de manhã
A estrada espera
Já é de manhã

Adeus, já é de manhã
Já é de manhã
Já é de manhã
Já é de manhã
Já é de manhã
Já é de manhã..

terça-feira, 4 de maio de 2010

A porta, entreaberta.


A tristeza bate na porta.
A maldita tristeza vem bater a porta.
Você aumenta o volume.
Ela continua batendo à porta, mais alto.
Você tenta ler alguma coisa, mas o som ligado não deixa.
A tristeza aumenta a força, só pra te irritar.
Você, iludido, acha que ela vai embora, então pra não incomodar, aumenta o volume do som e vai fazer sua janta.

A tristeza se irrita, e bota a porta no chão, furiosa, e destroi sua casa.
Vai dar trabalho, uma mudança as vezes é necessária, você podia estar enjoado da rotina e dos mesmos objetos sempre, só que a tristeza não para até quebrar tudo, e você vai sentir falta de algumas coisas, e vai chorar e ficar impotente, agachado no meio dos destroços.
Pela porta arrombada, vão entrar muitas outras coisas que em vez de agredir só sua casa, irão te agredir também, ou te fazer agredir outras pessoas.
Isso terá consequências, você é inimigo da tristeza, ela vai jogar tudo que ela tem contra você, e você, sem lar, sem apoio, ou vai apanhar até ela cansar de te bater, e vai entrar em um ciclo vicioso que não te levará a lugar nenhum.
A tristeza é uma visita social. Se ela vier a primeira vez, atender a porta é a melhor opção.
Pergunte como ela anda, pergunte de sua rotina, lhe sirva um drinque, um café. E quando tiver saturado dela, peça educadamente para ela ir embora. Quem sabe um dia, ela possa até te ligar antes de vir te ver, se brincar ela roubará algumas coisas da sua casa, dará seu endereço pras outras desgraças da vida humana, tudo pode acontecer. Mas com sua casa inteira, com você escolhendo o que fica a mostra pra ser roubado, escolhendo se vai deixá-la segura, ou se vai vender tudo e viajar, as coisas serão mais tranquilas e mais saudáveis.
O poder de escolha é inebriante, e o poder de enxergar através da mesma é a capacidade mais dificil de ser lidada.
Mas, ao fazê-lo, você terá motivos e razão para, inclusive, se achar que é necessário, agredir quem ama, com base para tanto.
Mas do contrário, será alguém com a marca da hipocrisia, que fala alto só porque tem alguém falando alto, que reclama, só porque dá razões pessoais para abordar alguém e apontar o dedo na cara. Será uma pedra que só é jogada pra todo lado, se esfacelando sem nem perceber.
A agressão também é uma face do amor, mas é a face do amor desfigurado, do amor mimado, que se consome na raiva e na culpa. Um dedo apontado levanta muita sujeira, causa asco, nojo, rejeição, e só é apontado pros outros pra distrair as atenções de si mesmo.
Um dedo em riste é a virtude dos hipócritas.

Ninguém é culpado pelo que você faz, a culpa é sua, e só sua, engula ela como quem toma remédio, como quem toma veneno pra se tornar imune. Se for bater, lembre-se de que está se expondo a apanhar também, se for bater, não assopre depois. Se for bater, esteja preparado pra apanhar de volta, quem bate se torna dependente da capacidade do outro revidar, quem bate depende.
Perdoar é lindo, e não adianta falar que não importa com beleza, se você se maquia pra esconder quem realmente é. O mundo não é um playground, e grande parte das pessoas não deveria mais ser criança.
Tem dias que o som nunca está alto o suficiente, e noites em que o susurro, intencionalmente, nunca é baixo demais, ou não era pra ser.
Acorde, ou morra tentando.

- Cut ∆way.

Cássia Eller - Todo o amor que houver nessa vida


Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós, na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia...
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio
O mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E algum veneno anti-monotonia...
E algum..

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Lá vem, ou já está.


Então avista-se ao horizonte a figura distorcida pelo calor daquela dama que todos dizem chamar Amnésia. Lá vem essa dama que se aproxima, e quanto mais ela vem, mais as figuras de fundo tornam-se embaçadas. A dama do rosto desfigurado, eles dizem, uma bela mulher que se tornou atormentada por não lembrar de si mesma, uma mulher que perdeu seu eu, seu ser, e agora sente prazer em desfigurar também a imagem dos outros.
Mas essa dama é apressada, o trabalho dela é arduo e precisa ser rápido, mas nunca é eficiente o suficiente. E lá vem de novo, outra figura no horizonte que agora, pelo calor, engana os olhos com imagens promissoras de paraísos inexistentes. O chão, coberto de combustível, exala um odor alcoólico característico e despertador de lembranças. Sim, agora vem a segunda parte, e uma segunda figura surge distorcida por entre as promessas de céu. Ela vem agitada, sacudindo os braços e dissolvendo as miragens a sua frente, mas não todas. Essa tem um nome bonito, mas praticamente imperceptível a ouvidos nus, ela se chama Consciência. Vários metros de altura, forte como um touro, arrebatando tudo pelo caminho. E ela marcha, com sua armadura que impede a real visão de seu corpo. Nunca se sabe se está realmente limpa, suja, bonita, feia. Ela é, e sempre será, a visão de uma casca que aparenta inquebrável.
Algumas miragens continuam quando ela passa, a maioria some. E o observador, cercado de gasolina, espera o momento certo de acender o isqueiro em sua mão e descobrir quais são reais, pois a Amnésia o deixou sem saber se ele só tem uma chance de queimar tudo.
O momento virá, e as mudanças, também.
Não confunda mudar de idéia, com não saber o que ter uma idéia significa.
Todo mundo diz que o pior caminho é aquele contrário ao nosso próprio, sem nem mesmo saber se de fato o é, sem nem mesmo entender qual pensa seguir.

- Cut ∆way.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Puscifer - Momma sed


Wake up son of mine
Momma got somethin' to tell you
Change is come
Life will have its way
With your pride, son
Take it like a man

Hang on son of mine
Storm's blowin' up your horizon

Change is come
Keep your dignity
Take the high road
Take it like a man

Listen up son of mine
Momma got something to tell you
All about growin' pains
Life will pound away
Where the light don't shine, son
Take it like a man

Suck it up son of mine
father blowin' up your horizon

Change is come
Keep your dignity
Take the high road
Take it like a man

Mamma said life awaits
Like a kidney stone
Its just a broken heart son
This pain will pass away

domingo, 11 de abril de 2010

Ação, sem reação.



O agir pra melhorar é a mais densa das possibilidades dessa vida. Saber olhar para o passado e analisar a si mesmo e suas consequências dá para si uma certeza, a de que mesmo que não tenha feito o que supostamente deveria, pode-se mudar e ainda testar novas teorias.
Estar pronto pra deixar de ser o que era cômodo é um exercício pesado e gradativo, no qual se absorve tudo que não poderia ser absorvido antes, e admite-se o que não poderia ser admitido. A dor de ver mudados tudo o que foi dito e prometido por realidades reaviva velhas certezas de que, por mais que se tente embelezar a teoria, tudo na prática apresenta formas adaptadas ao ambiente. Perceber os erros e aprender com eles está embutido em qualquer maneira de felicidade sustentável. No fim a vida se apresenta como uma grande tentativa com sucessos parciais, há de se saber usá-los para o bem dos que se ama. Tentar e falhar, nunca desistir, saber o que esperar sem se magoar com resultados falhos. Saber perder e saber também, porque não, ganhar.

- Cut ∆way.

Dedo de Moça - Por um



A história são sempre fatos, a se contar
Uma vida dispõe de atos, a acabar
Sobre um amor, ou sobre um lugar
Sobre rocha fina, floram só fantasias
Falar de vida em poesia, é como falar do ar
O amor pelo compasso, dita discurso irregular
Ia sempre um fio, disposto a se quebrar
Ia sempre um mil, de coisas pra se pensar
Alguém sempre está atento, às cordas do violão
Atento ao seguimento, disposto a jogar ao chão
Se pôs em movimento, um simples refrão
Que vive no sofrimento, escorado pelo coração
Ah, delícia se viver, tentando assim cantar, algo pra ser feliz
Sendo só, prazer, amor em gozo, sem ter alegria no bolso
E um samba pra terminar
Vida e força, pro fim, dessa vida despojada, dessa vida descarada, desse amor, pelo time.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

De fora.


-A questão é quase filogenética, eles são humanos e todos tem vícios e surtos. Se machucam e se doem ao menor sinal de fogo.
-Mas como eles podem fugir disso então?
-Ouvi dizer que existem alguns que amam. Esses espécimes machucam mais, mas tem o poder de curar, equilibrando a balança. Ouvi dizer também que alguns tem amores tão arrebatadores que quase acabam com a vida do próximo, mas, que ao curar, parece devolvê-la em dobro com o preço de um par de lágrimas.
-Mas porque se ocupam com isso, se me parece muito mais simples não sentir nada, como fazemos?
-Não diga besteira, nós somos apenas metáforas. Somente na abstração nada pode ser sentido, e tudo pode ser ilustrado. As cores e as dores as vezes são frias, as vezes são quentes demais, mas acredite, sempre são cores, e sempre serão dores.

- Cut ∆way.

Titãs - Porque eu sei que é amor

Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova

Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora

Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
E eu peço somente
O que eu puder dar

Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta

Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo

Porque eu sei que é amor