terça-feira, 5 de outubro de 2010

Repetição.


Escrito o verbo, por falta de opção.
Descrito está, substantivando e trazendo essência ao que não brilha mesmo que se queime. Escrever é também a arte de não saber o que dizer, mas ter a capacidade de dizê-lo mesmo assim, se parafraseado nas entrelinhas, sem nem saber-se ser, como é, está e nunca permanecerá.
O que fazemos não é concreto, não é visto por todos, exige-se atenção e capacidade, uma sagacidade rara e crua para compreender os entremeios dos vocabulários à mostra, e o sangue que pulsa nas letras, que vai para as músicas, que enfeitam as notas, que pedem os ritmos, buscam a melodia, o jogo das popas gramaticais.
Quem escreve se perde no ar, esquece quem é pois se vomita debruçado sobre teclados e papéis, escrever é arte, e a arte se joga para fora do senso, pra fora do dentro e pra fora do fora, do mundo.
Hoje a rima não foi alcançada, a frase não veio, o efeito passou e a vontade da forma não se cumpriu, e quem escreve sabe que a forma importa tanto quanto a função, pois a faca não é nada sem o fio que corta sem discriminação a carne do animal e do caçador, que abre vesículas e expõe tendões, que salva e extirpa tantas vidas no meio de suas utilidades.
Um instrumento com um cabo e sob controle, é tão perigoso quanto um sem nenhum ou com apenas um dos dois.
Portanto, cuidado com as palavras cortantes, com as lembranças mal contadas e com orelhas mal curadas.
Porque isso pode doer pra caralho.


- Cut ∆way.

Um comentário:

Isabel Gripp disse...

The Oscar goes to Tainã,the Writer.
Perfeito.
irá para o meu perfil com um link anexado.
famous will become-se.
=)
congratszzz.